por Daniel Goleman
Se tudo funcionasse perfeitamente em sua vida, o que você estaria fazendo daqui a dez anos?
Uma pergunta assim nos abre para possibilidades novas, para refletirmos sobre o que mais importa e quais valores profundos nos guiam pela vida.
Essa abordagem fornece aos gerentes uma ferramenta que orienta suas equipes a obterem melhores resultados.
Compare essa pergunta esclarecedora com uma conversa sobre o que está errado com você e o que precisa fazer para se corrigir. Esta última linha de pensamento nos bloqueia, nos põe em defensiva e reduz nossas possibilidades de salvarmos as operações. Os gerentes deveriam manter isso em mente, particularmente durante avaliações de desempenho.
A pergunta sobre sua vida perfeita daqui a dez anos é de Richard Boyatzis, professor da Weatherhead School of Management da Case Western e velho amigo e parceiro.
Suas pesquisas recentes sobre a melhor abordagem ao coaching usaram imagens do cérebro quando você se concentra em sonhos, e não em fracassos. Essas descobertas têm grandes implicações para a melhor forma de ajudar alguém – ou a si próprio – a melhorar.
Em meu livro Foco: A Atenção e seu Papel Fundamental para o Sucesso, fiz esta citação a Boyatzis:
Falar sobre nossos sonhos e objetivos positivos ativa centros cerebrais que nos abrem para novas possibilidades. Mas se mudamos a conversa para o que deveríamos fazer para melhorar, nos fechamos.
Trabalhando com colegas na Cleveland Clinic, Boyatzis submeteu pessoas a uma entrevista positiva, priorizando os sonhos, ou a uma negativa, focada nos problemas, enquanto seus cérebros eram tomografados.
A entrevista positiva despertou atividade nos circuitos da recompensa e nas áreas de lembranças boas e sentimentos alegres – uma característica cerebral que fica evidente quando adotamos uma visão inspiradora.
Já a entrevista negativa ativou os circuitos cerebrais da ansiedade, as mesmas áreas ativadas quando nos sentimos tristes e preocupados. No último estado, a ansiedade e atitude defensiva desencadeadas tornaram mais difícil enfocar possibilidades de melhoria.
Claro que um gerente precisa ajudar as pessoas a enfrentarem o que não está funcionando. Nas palavras de Boyatzis:
Precisamos do foco negativo para sobreviver, mas de um foco positivo para prosperar. Precisamos dos dois tipos de foco, mas na proporção certa.
Barbara Frederickson, psicóloga da Universidade da Carolina do Norte, constata que sentimentos positivos aumentam a abertura de nossa atenção para abranger uma gama maior de possibilidades e nos motivar a buscar um futuro melhor.
Ela constata que pessoas que se saem bem tanto na vida privada como na profissional costumam ter uma proporção maior de estados positivos, em relação aos negativos, durante seus dias.
Estar na faixa do humor positivo ativa os circuitos do cérebro que nos lembram quão bem nos sentiremos quando alcançarmos uma meta, segundo a pesquisa de Richard Davidson na Universidade de Wisconsin.
É esse o circuito que nos mantém dando os pequenos passos necessários para alcançar um objetivo maior – seja terminar um grande projeto ou mudar nosso comportamento.
Esses circuitos cerebrais – vitais para perseguirmos nossas metas – funcionam à base de dopamina, uma substância química cerebral que provoca uma sensação agradável, junto com opioides endógenos como endorfinas, os neurotransmissores da “euforia dos corredores”.
Essa mistura química fomenta o esforço e o marca com doses gratificantes de prazer. Talvez por isso manter uma visão positiva aumente o desempenho, como descobriu a pesquisa de Frederickson:
Energiza-nos, permite que nos concentremos melhor, sejamos mais flexíveis em nosso pensamento e nos conectemos eficazmente com as pessoas à nossa volta.
Gerentes e coaches podem manter isso em mente. Boyatzis sustenta que entender os sonhos de uma pessoa pode iniciar uma conversa sobre o que seria necessário para concretizá-los.
E isso pode levar a metas de aprendizado concretas. Com frequência essas metas significam aprimorar capacidades como escrúpulo, saber ouvir, colaboração e semelhantes – que podem render um melhor desempenho.
Boyatzis dá o exemplo de um estudante de MBA executivo, um gerente, formado em engenharia, que queria desenvolver melhores relações no trabalho.
Quando uma tarefa tinha de ser realizada, “tudo que ele via era a tarefa”, diz Boyatzis, “não as pessoas com quem trabalhava para que ela fosse realizada”.
Sua curva de aprendizado envolvia sintonizar com os sentimentos das outras pessoas. Para praticar correndo pouco risco, ele resolveu treinar o time de futebol do filho – e se esforçar para observar como os membros do time se sentiam durante o treino. Aquilo se tornou um hábito que ele levou ao trabalho.
Ao começar pela meta positiva – relações de trabalho melhores – em vez de considerar a questão uma falha pessoal que queria superar, alcançar sua meta tornou-se bem mais fácil.
Moral da história: não enfoque apenas as fraquezas, mas também esperanças e sonhos. É o que nossos cérebros estão programados para fazer.
Texto adaptado do livro “Liderança – A Inteligência Emocional na Formação do Líder de Sucesso”
Fonte: https://hbr.org/2013/12/when-you-criticize-someone-you-make-it-harder-for-them-to-change
Dr. Daniel Goleman é psicólogo, palestrante e autor de vários livros, dentre eles o mundialmente conhecido Inteligência Emocional, publicado em mais de 40 idiomas.