4 Crenças que Podem Levar à Ilusão do Sucesso

Conheça 4 crenças que podem ter lhe ajudado a chegar até onde você está, mas que também podem estar lhe impedindo de fazer as mudanças necessárias para ir além!

Por que pode ser tão difícil para líderes de sucesso mudar?

Marshall Goldsmith

Qualquer humano, na verdade, qualquer animal tende a repetir o comportamento que é seguido por um reforço positivo. Quanto mais bem sucedidos nos tornamos, mais positivo é o reforço que recebemos e é mais provável que experimentemos a ilusão do sucesso.

Eu me comporto desta maneira. E sou bem sucedido. Portanto, devo ser bem sucedido porque me comporto desta maneira.

Errado!

Quanto mais alto subimos na escada organizacional, mais os nossos funcionários nos levam a pensar como somos maravilhosos! Nosso comportamento é geralmente seguido por reforço positivo, mesmo quando esse comportamento não faz absolutamente nenhum sentido.

Uma noite, durante o jantar, ouvi um líder militar muito sábio compartilhar seu aprendizado de anos de experiência com um ansioso e recém-promovido General: “Você notou, nos últimos tempos, que, quando você conta piadas, todo mundo explode na gargalhada? E quando você diz algo ‘inteligente’ todos balançam a cabeça em solene concordância?”. O jovem General respondeu: “Claro. Notei, sim.” O velho General sorriu e continuou: “Deixe-me ajudá-lo. Você não é tão engraçado, e nem tão inteligente! Mas ganhou essa estrela no ombro. Nunca a deixe subir à sua cabeça”.

Todos nós gostamos de ouvir o que queremos ouvir. Queremos acreditar nas grandes coisas que o mundo está nos dizendo sobre nós mesmos. Nossa crença em nós mesmos nos ajuda a nos tornarmos bem sucedidos. E também pode dificultar em muito nossa mudança. Como observou o velho e sábio General – não somos realmente tão engraçados, e nem somos realmente tão inteligentes. Todos nós podemos melhorar – se nos dispormos a olhar para nós mesmos de forma crítica. Ao compreender que mudar o comportamento pode ser bem difícil para líderes de sucesso, podemos aumentar a probabilidade de fazermos as mudanças que precisarmos fazer – em nossa busca para nos tornarmos ainda mais bem sucedidos.

Por que resistimos à mudança?

A UNUM (companhia de seguros norte-americana) publicou um anúncio, há alguns anos, mostrando um poderoso urso pardo rugindo no meio de uma corredeira, com o pescoço alongado ao limite, as mandíbulas bem abertas e os dentes cintilantes. O urso estava prestes a abocanhar um salmão desavisado que subia a correnteza. A manchete dizia: VOCÊ PROVAVELMENTE SE SENTE COMO O URSO. VAMOS SUGERIR QUE VOCÊ SEJA O SALMÃO.

O anúncio foi desenvolvido para vender seguros de invalidez, mas me impactou como uma declaração poderosa de como nós nos iludimos quanto às nossas realizações, nosso status e nossas contribuições. Nós, frequentemente:

  • Superestimamos a nossa contribuição para determinado projeto;
  • Temos uma opinião elevada sobre nossas habilidades profissionais e a posição que ocupamos frente a nossos pares;
  • Exageramos o impacto de nosso trabalho na rentabilidade, desconsiderando custos reais e ocultos.

Muitos de nossos devaneios se originam de nossa associação com o sucesso, não com o fracasso. Como recebemos reforço positivo por nossos sucessos passados, acreditamos que eles são preditivos para grandes coisas que estão por vir em nosso futuro.

O fato de que pessoas bem sucedidas tendem a ter devaneios não é de todo ruim. A crença em nossa competência nos dá confiança. Mesmo que não sejamos tão bons quanto imaginamos, esta confiança nos ajuda a sermos pessoas melhores do que seríamos caso não acreditássemos em nós mesmos. As pessoas mais realistas do mundo que não tem devaneios – são deprimidas!

Apesar de nossas ilusões de autoconfiança nos ajudar em nossas realizações, elas podem dificultar-nos a mudar. Na verdade, quando outros sugerem que precisamos mudar, podemos demonstrar perplexidade autêntica.

É reação interessante que ocorre em três etapas: A primeira, estamos convencidos de que os outros estão confusos. Ou estão mal informados, ou simplesmente não sabem do que estão falando. Devem ter nos confundindo com outra pessoa que realmente precisa mudar. A segunda, uma vez que percebemos que a outra pessoa não está confusa – talvez esteja correta aquela informação sobre como eles percebem nossas deficiências – nós caímos em negação. Pensamos: “Essa crítica pode estar correta, mas não pode ser tão importante – ou eu não seria tão bem sucedido.” A última, quando tudo o mais falhar, podemos atacar o outro lado. Nós desacreditamos o mensageiro: “Por que um vencedor como eu deveria dar ouvidos a um perdedor como você?”.

Estas são apenas algumas das reações iniciais para o que nós não queremos ouvir – mecanismos de negação. Junte a isso com a interpretação muito positiva de que as pessoas bem sucedidas atribuem a (I) seu desempenho passado, (II) sua capacidade de influenciar seu sucesso (ao invés de se verem apenas como afortunadas), (III) sua crença otimista de que seu sucesso vai continuar no futuro, e (IV) seu exagerado sentimento de controle sobre seu próprio destino (em vez de ser controlado por forças externas) – e você tem um cocktail volátil de resistência à mudança.

As crenças positivas que possuímos sobre nós mesmos, nos ajudam a obter sucesso. Essas mesmas crenças podem nos dificultar mudarmos para melhor. As mesmas crenças que nos ajudaram a chegar até aqui – nosso atual nível de sucesso, podem nos impedir de fazermos as mudanças necessárias para irmos adiante – o próximo nível que o nosso potencial nos permitir chegar.

 1ª Crença:Eu sou bem sucedido!”

As pessoas de sucesso têm uma ideia consistente correndo em suas veias e cérebros: “Eu tive sucesso. Eu tive sucesso. Eu tive sucesso.” Esta forte confiança no sucesso do passado nos faz assumir os riscos necessários para buscarmos o nosso sucesso futuro.

Você pode não pensar que isso se aplica a você. Você pode pensar que é um ego enfurecido. Mas, olhe atentamente para si mesmo. Por que você tem confiança ao acordar pela manhã e se preparar para o trabalho, cheio de otimismo e disposição para competir? Não é porque você está se recordando das mancadas que fez nem dos fracassos que sofreu. Pelo contrário, é porque você editou as falhas e optou por executar o carretel dos destaques de seus sucessos. Se você é como as pessoas bem-sucedidas que conheço, você enfoca os aspectos positivos, evocando imagens mentais onde você foi a estrela, deslumbrando a todos e saindo por cima. Podem ser aqueles cinco minutos na reunião executiva, quando você apresentou seus argumentos exatamente da forma como você queria (Quem não gostaria de rever esses momentos como se fosse a Jogada do Dia de um Programa de Esportes?). Pode ser aquele memorando habilidosamente elaborado que o Diretor-executivo elogiou e encaminhou para todos na empresa (Quem não iria querer reler esse memorando durante um tempo livre?). Quando nossas ações têm um final feliz e nos fazem “aparecer bem na fita”, gostamos de re-exibi‐las para nós mesmos.

Como pessoas de sucesso pensando sobre seus momentos, não nos depreciamos, nós nos engrandecemos – e isso é bom! Ou não ficaríamos tão animados ao nos levantarmos pela manhã.

Uma vez, eu conversei sobre isso com um jogador de beisebol da grande liga norte-americana. Ele me disse: “Todo rebatedor tem certos arremessadores que ele, historicamente, rebate melhor que outros. Quando eu encaro um rebatedor que eu já rebati bem no passado, eu sempre sigo para a base pensando ‘eu domino’. Isso me dá confiança.”.

Nada surpreendente nisso. Para as pessoas de sucesso, o passado é um prólogo cor-de-rosa.

Mas ele levou esse pensamento ao patamar seguinte: “E quando você enfrenta arremessadores contra os quais, historicamente, rebateu mal? Como você lida com um rebatedor que ‘domina você’?”

“É a mesma coisa”, disse ele. “Ao me preparar, eu penso: Eu posso bater esse cara. Já bati arremessadores muito melhores do que ele.”

Em outras palavras, ele não só se apoia em seu sucesso no passado apenas para manter a sua atitude positiva – ele confia nele mesmo quando seu desempenho passado não foi tão brilhante – ou seja, quando as evidências realmente contradizem a sua autoconfiança. As pessoas de sucesso não bebem de um copo “meio vazio”!

Quando a conquista é o resultado de um esforço de equipe – não do desempenho de um indivíduo – nós tendemos a superestimar nossa contribuição para a vitória final. Uma vez pedi a três parceiros de negócios para estimarem a sua contribuição individual para os lucros da parceria. Não surpreendentemente, a soma de suas respostas passou de 150% do lucro efetivo. Cada parceiro pensava estar contribuindo com mais da metade do total!

Esta estimativa exagerada de nosso sucesso passado se vê em quase qualquer local de trabalho. Se você pedir a seus colegas (em uma pesquisa confidencial) para estimarem a contribuição percentual deles para a empresa, o total vai exceder os 100%. Não há nada de errado nisso. (Se o total ficar abaixo de 100%, você provavelmente precisa de novos colegas!)

Essa crença, “Eu tive sucesso”, positiva na maioria dos casos, pode se tornar um grande obstáculo quando uma mudança de comportamento é necessária.

Pessoas de sucesso consistentemente superestimam a si mesmas em relação aos seus pares. Em meus programas de treinamento, eu solicitei para mais de 50.000 participantes para se avaliarem comparativamente ao desempenho de seus pares de profissão: de 80 a 85% se classificaram entre os 20% melhores de seu grupo; e cerca de 70% se classificaram entre os 10% melhores. Os números ficam ainda mais ridículos entre profissionais com percepção de maior status social, como médicos, pilotos e banqueiros de investimento.

Médicos chegam a ser os mais iludidos. Certa vez, contei a um grupo de médicos que a minha extensa pesquisa tinha provado de forma conclusiva que metade dos médicos havia se graduado na metade inferior de sua classe na faculdade. Dois destes insistiram que isso era impossível!

Todos nós tendemos a aceitar feedback de outros desde que seja consistente com a maneira com que nos enxergamos. Todos tendemos a rejeitar ou negar um feedback que seja inconsistente com a maneira com que nos enxergamos. Pessoas de sucesso se sentem ótimas acerca de sua performance anterior! A “boa notícia” é que essas memórias positivas constroem a nossa autoconfiança e nos inspiram a tentar ter ainda mais sucesso. A “má notícia” é que a nossa autoimagem iludida pode nos impedir de ouvir um feedback negativo e de admitirmos que precisamos mudar.

2ª Crença:Eu posso ter sucesso!”

Pessoas de sucesso acreditam que têm a capacidade de influenciar positivamente o mundo – e fazer acontecer as coisas que desejam. Não é bem como um ato de mágica, onde o ilusionista move objetos sobre uma mesa com a sua mente. Mas é quase isto. As pessoas de sucesso literalmente acreditam que através da pura força de sua personalidade, talento e poder de seu cérebro podem manobrar uma situação a seu favor.

Este é o motivo pelo qual algumas pessoas erguem suas mãos e dizem “Pode contar comigo”, quando o chefe pede voluntários para uma atividade – enquanto outros se encolhem em um canto, rezando para que não sejam notados.

Esta é a definição clássica para autoeficácia, e pode ser a crença principal central para impulsionar o sucesso individual. Pessoas que acreditam que podem ter sucesso veem oportunidades enquanto outros veem ameaças. Eles não têm medo de incertezas ou ambiguidades, eles as abraçam. Eles assumem riscos maiores e alcançam maiores retornos. Dada a escolha, apostam em si mesmos.

Pessoas de sucesso que têm um alto nível de controle quanto ao seu futuro. Em outras palavras, eles não se sentem como vítimas do destino. Eles enxergam o sucesso em função da própria motivação, habilidade e esforço – não como sorte, acaso aleatório ou destino. Eles mantêm essa crença, mesmo quando a sorte desempenha um papel crucial no sucesso.

Há muitos anos, seis de meus sócios quiseram se envolver em um grande negócio. Como eu era o sócio sênior, eles necessitavam de minha aprovação. Eu estava determinadamente contra o negócio e lhes disse que ele era idiotice. Finalmente concordei, entre chutes e reclamações. Sete anos mais tarde, retorno que recebi para nosso “ridículo” investimento excedeu os sete dígitos a esquerda do decimal. Não havia como creditar meu ganho inesperado a outra razão que não seja pura sorte. Quando contei essa história para alguns de meus amigos bem-sucedidos, eles se recusaram a enxergá-la desta forma. Eles insistiram que a minha sorte era de fato uma merecida recompensa por anos de trabalho duro e dedicação. Esta é a resposta clássica de pessoas bem sucedidas. Elas tendem a acreditar que a boa fortuna se “ganha” através da motivação pessoal e capacidade do indivíduo, mesmo quando não é o caso.

Claro, essa crença faz tanto sentido como herdar dinheiro e acreditando ser um empreendedor. Se você nasceu na terceira base (beisebol norte-americano), não se deve assumir que acertou um triplo. As pessoas de sucesso acreditam que existe uma conexão casual entre o que se têm feito e os resultados que se seguem – mesmo quando nenhuma ligação exista. Essa crença é ilusória, mas também é fortalecedora.

Essa crença certamente é melhor do que a que se opõe a ela. Tomemos o exemplo de pessoas que compram diversos bilhetes de loteria. Elas tendem a ter menos sucesso. É por isso que a loterias mantidas por governos atuam, na verdade, como um “imposto regressivo” sobre os pobres. Se você acreditar que sucesso é uma função de sorte, é provável que você compre bilhetes de loteria (É por isso que raramente se vê um milionário apostando em bilhetes). Para piorar a situação, apostadores costumam desperdiçar todo o dinheiro que ganharam. Por quê? As mesmas crenças desorientadoras que os levaram a adquirir os bilhetes são reforçadas quando eles ganham o prêmio.

Pessoas de sucesso trocam essa “mentalidade de loteria” por crenças inabaláveis em si próprios. Isso cria obstáculos para que mudem de comportamento. Quando acreditamos que a nossa boa sorte está, de forma direta e causal, ligada ao nosso comportamento, podemos facilmente aceitar uma suposição falsa: “Eu sou bem sucedido. Eu me comporto desta forma.” Logo, devo ser bem sucedido porque eu me comporto dessa forma. Pode ser especialmente desafiante ajudar líderes bem-sucedidos a perceberem que o seu sucesso acontece a despeito de alguns de seus comportamentos.

3ª Crença:Eu vou conseguir!”

Pessoas de sucesso são otimistas. Qualquer um que tenha trabalhado em vendas sabe: se você acreditar que vai ser bem sucedido, pode ser que não o seja; mas se você não acreditar que vai ser bem sucedido, certamente não o será! Os otimistas tendem, cronicamente, a se comprometerem demais. Por quê? Por acreditarmos que podemos fazer mais do que realmente podemos.

Pode ser extremamente difícil para uma pessoa ambiciosa, com a atitude “Eu vou conseguir!”, dizer “não” às oportunidades cobiçadas. A grande maioria dos líderes com quem trabalho se sente ocupado – ou mais ocupados – do que jamais se sentiram em suas vidas. Eles não estão tão ocupados porque são perdedores. Eles estão muito ocupados porque são vencedores. Eles estão “se afogando em um mar de oportunidades”.

Talvez isso já tenha acontecido com você. Você fez algo fantástico no trabalho. De repente, diversas pessoas querem se associar ao seu sucesso.

Elas pensam, de forma completamente lógica, que uma vez que você realizou um milagre, você poderá fazê‐lo novamente – desta vez para eles. Em pouco tempo, oportunidades são jogadas para você numa velocidade nunca antes vista. Uma vez que você acredita “Eu vou conseguir!”, fica difícil dizer “não”. Se não tomar cuidado, você pode ficar sobrecarregado – e aquilo que permitiu sua ascensão, poderá provocar a sua ruína.

No meu trabalho voluntário, meu cliente era um diretor executivo de uma das mais importantes organizações de serviços humanitários do mundo. Sua missão era ajudar as pessoas mais vulneráveis do mundo. Infelizmente, seu negócio estava em ascensão. Quando as pessoas lhe pediam ajuda, ele não tinha coragem, nem vontade, de dizer não. Tudo era impulsionado por sua crença “Vamos ter sucesso!”. Como resultado, ele prometia até mais do que seus funcionários mais dedicados poderiam conseguir entregar. Seu maior desafio como líder era não deixar permitir que o seu otimismo levasse sua equipe ao estresse, pedidos de dispensa e compromissos pendentes.

A crença “Eu vou conseguir!” pode sabotar nossas chances de sucesso quando o momento nos pede mudanças de comportamento. Não peço desculpas pelo fato de ser obcecado em verificar se meus clientes realmente usam o que aprendem comigo – e conseguem mudanças positivas de comportamento. Quase todos os participantes de meus programas de treinamento de liderança têm a intenção de aplicar o que foi aprendido na volta ao trabalho. Muitos aplicam e ficam melhores! Muitos, no entanto, não fazem absolutamente nada e poderiam muito bem ter ficado em casa, assistindo seriados na TV.

Quando pergunto aos “não realizadores”: Por que você de fato não implementou as mudanças de comportamento que você disse que iria? De longe, a resposta mais comum é: “Eu queria, mas não tive tempo para me dedicar a isto.” Em outras palavras, eles estavam com sobrecarga de comprometimento. Eles sinceramente acreditavam que o iriam fazer “mais tarde”, porém “mais tarde” nunca chegou. Nosso otimismo excessivo e a sobrecarga de comprometimento que dele resultam pode ser um sério obstáculo à mudança, tão seriamente quanto a nossa negação ao feedback negativo ou da nossa crença de que nossos comportamentoss são, de fato, as causas para nossos sucessos.

4ª Crença:Eu escolhi vencer!”

Pessoas de sucesso acreditam que fazem o que escolhem fazer, porque decidiram fazê-lo. Eles têm uma grande necessidade de autodeterminação. Quando fazemos o que nós escolhemos fazer, estamos comprometidos. Quando fazemos o que temos que fazer, somos adequados.

Uma criança pode perceber a diferença entre comprometimento e adequabilidade. Mesmo um adolescente cético, que “sabe de tudo”, como eu fui, poderia perceber que alguns professores tinham escolhido a profissão (e amavam ensinar), enquanto outros o faziam apenas como forma de sustento – e os melhores professores eram certamente os primeiros. Eles estavam comprometidos com seus alunos ao invés de serem controlados por forças externas (seus contracheques). Pessoas de sucesso têm aversão a se sentirem controladas ou manipuladas. Vejo isso diariamente no meu trabalho. Mesmo eu tendo avançado como alguém que pode ajudar as pessoas a mudarem para melhor, eu ainda encontro resistência. Eu já me conformei com o fato de que eu não posso fazer as pessoas mudarem. Eu só posso ajudá-las a melhorar naquilo que elas escolhem mudar.

O técnico de basquete Rick Pitino escreveu um livro intitulado “Sucesso é uma escolha”. Eu concordo. “Eu escolho ter sucesso” correlaciona-se estreitamente com realização em praticamente qualquer campo. As pessoas não tropeçam por acaso no sucesso; elas o escolhem.

Infelizmente, fazer que pessoas de sucesso digam “e eu escolhi mudar” não é uma transição fácil. Significa virar certas crenças de ponta cabeça. Fácil de dizer, difícil de fazer. Quanto mais acreditamos que o nosso comportamento resulta de nossas escolhas e comprometimentos, menos provável é que queiramos mudar esse comportamento.

Há uma razão para isso, e é um dos princípios mais estudados em Psicologia. É chamado de “dissonância cognitiva”. Refere-se à desconexão entre o que queremos acreditar e aquilo que realmente experimentamos no mundo. A teoria subjacente é simples. Quanto mais estivermos comprometidos em acreditar que algo é verdadeiro, menos provável é que aceitemos que o seu oposto possa ser verdadeiro, mesmo em face de clara evidência que mostre que estejamos errados.

Dissonância cognitiva geralmente funciona a favor de pessoas bem‐sucedidas quando a aplicam para alcançar uma missão. Quanto mais estivermos comprometidos em acreditar que estamos no caminho correto, menor será a chance de acreditarmos que estratégia é falha, mesmo perante a uma evidência inicial que indique que possamos estar errados. Essa é a razão pelas quais pessoas de sucesso não recuam nem vacilam em tempos difíceis. O compromisso com seus objetivos e crenças lhes permite ver a realidade através de óculos cor-de-rosa – uma coisa boa em muitas situações. O comprometimento encoraja que as pessoas “mantenham a direção” e “não desistam” quando “a situação aperta”.

Esse mesmo princípio, é claro, também pode se colocar contra as pessoas de sucesso, quando estas deveriam “mudar de direção”. O velho ditado “os vencedores nunca desistem” frequentemente é verdadeiro. Às vezes, é importante, mesmo para pessoas bem sucedidas, parar de fazer algo que não está funcionando. Para os vencedores, é difícil desistir!

Como a ilusão do sucesso nos torna supersticiosos

Estas quatro crenças de sucesso criam dentro de nós uma coisa que não queremos acreditar a respeito de nós mesmos. Nossa ilusão de sucesso é, na verdade, uma forma de superstição.

Você diz: “Quem, eu? Eu sou educado e racional. Não sou supersticioso (a)!”

Isso pode ser verdade para superstições “infantis”, como a má sorte de se passar debaixo de uma escada, ou quebrar um espelho, ou deixar um gato preto cruzar nosso caminho. Muitos de nós menosprezamos superstições como crenças tolas de primitivos, sem educação. Dentro de nós, queremos acreditar que estamos acima dessas noções bobas.

Mas não é tão simples. De certo modo, somos todos supersticiosos. Em muitos casos, quanto mais alto escalamos o totem organizacional, mais supersticiosos nos tornamos.

Psicologicamente falando, o comportamento supersticioso vem da crença de que uma atividade específica que é acompanhada por um reforço positivo é na verdade a causa desse reforço positivo. A atividade pode ser funcional ou não – ou seja, pode afetar alguém ou alguma coisa, ou pode ser autônoma e sem sentido – mas se algo de bom acontece depois que a fazemos, então é que construímos esta conexão. Sou graduado em matemática. Matematicamente falando, a superstição é apenas a confusão de duas palavras: correlação e causalidade.

F. Skinner demonstrou como pombos famintos repetiriam contrações musculares, sem sentido, quando estas contrações, por puro acaso, fossem seguidas por pequenas porções de comida. Da mesma maneira, os líderes de sucesso podem repetir um comportamento disfuncional quando esse comportamento é seguido por grandes quantias de dinheiro – mesmo se o comportamento não tenha conexão com os resultados que desencadearam o dinheiro.

Um dos meus maiores desafios é ajudar líderes de sucesso a desvendar como a confusão entre os comportamentos “por causa de” e “apesar de” – pode desencadear em uma “armadilha de superstição”.

Fazendo as mudanças que precisamos fazer

Agora, vamos voltar os holofotes sobre você, porque poucos de nós acreditam poder estar imunes à ilusão do sucesso. Escolha um dos seus próprios comportamentos peculiares ou pouco atraentes; algo que você sabe que irrita seus amigos, familiares ou colegas de trabalho. Agora, pergunte a si mesmo: Eu continuo a fazer isso porque acredito que de alguma forma está associado a coisas boas que aconteceram comigo? Examine isso mais atentamente. Será que este comportamento o ajuda a obter resultados – ou é uma daquelas crenças supersticiosas irracionais que têm controlado a sua vida durante anos? O primeiro é um comportamento “por causa de”, o último é, “apesar de”.

Superar a ilusão do sucesso requer vigilância e questionamento constante: “Esse comportamento é uma razão legítima para o meu sucesso, ou será que eu estou apenas me enganando?”

O primeiro passo para alcançar uma mudança positiva de comportamento é compreender que é difícil para líderes de sucesso mudar – por todas as razões que já discutimos. Perceba que as mesmas crenças que nos ajudaram a chegar onde estamos, podem estar nos impedindo de avançar para onde nós queremos ir.

Todos os meus clientes de coaching são diretores-executivos ou têm o potencial para tornarem-se diretores-executivos de grandes corporações. Eu não sou pago se eles não alcançam uma mudança positiva, mensurável – que não seja avaliada por eles mesmos, mas pelos principais acionistas de suas organizações. Esses altos executivos são pessoas brilhantes, que obtiveram incrível sucesso e que querem melhorar ainda mais. Ainda que motivados e competentes, todos os meus clientes atestam que uma mudança de comportamento pode ser simples – mas está longe de ser fácil.

Como conseguir uma mudança positiva? Adquira o hábito de perguntar às pessoas chave em sua vida sobre “Como posso melhorar?”. Sensibilize‐os para ajudá‐lo a sair de onde você está (que pode ser um lugar maravilhoso), para aonde você quer estar (que pode ser um lugar ainda melhor). Compreenda que sua primeira inclinação quando as pessoas apontarem suas “áreas de melhoria” poderá ser acreditar que estas pessoas estão “erradas” ou “confusas”. Aceite o fato de que a sua crença no seu prévio sucesso e em sua contribuição para o sucesso de sua equipe são provavelmente exageradas. Dê-lhes o “benefício da dúvida”. Esteja aberto para o fato de que elas podem estar certas e você pode muito bem ser a pessoa que está “confusa”.

Encare a realidade de que só você irá mudar o que você quiser mudar – e que a motivação e o comprometimento com a mudança precisam vir de dentro de você. Muitas vezes ouvi Ed Zander, principal executivo da Motorola, ensinar a seus potenciais líderes o valor de encorajar a participação, deixando claro que, ao mesmo tempo toda decisão não deve ser tomada, através de votação ou por obtenção de consenso. Líderes têm que tomar as decisões. Após ouvir a opinião daqueles a quem você respeita, trabalhe somente as mudanças que você acredita serem adequadas para você e para a sua organização. O desejo por mudança tem que vir de dentro de você!

Por fim, atenção com o excesso de compromissos. Mantenha o processo de mudança positivo, simples, focado e rápido. Perceba que a sua inclinação natural será a de pensar que você pode fazer mais do que você realmente vai fazer. No passado, eu sugeria que líderes escolhessem de 1 a 3 áreas para a mudança comportamental. Eu o fui quando eu era jovem e idealista. Agora, sugiro que cada líder escolha apenas um comportamento chave para ser melhorado.

Mantenha contato e troque ideias com pessoas que você respeita, e você poderá melhorar continuamente. Um dos meus clientes, George Borst, diretor-executivo dos serviços financeiros da Toyota, foi muito bem sucedido em mudar o comportamento que escolheu em melhorar: tornar-se um coach mais eficaz. Enquanto revisou os resultados positivos que seus colegas de trabalho tinham registrado, ele teve uma grande conclusão. “Se eu quiser continuar a melhorar enquanto líder, eu vou ter de trabalhar neste tema pelo resto da minha vida, não vou?”

Como observou o velho e sábio General, ao galgar as fileiras e você conquista àquela estrela no ombro – não a deixe subir à cabeça. Perceba que a cada promoção poderá ser mais difícil mudar. Sempre equilibre a confiança que o trouxe até aqui, onde você está – com a humildade necessária para levá-lo lá – onde você tem potencial de chegar.


Marshall GoldsmithDr. Marshall Goldsmith foi nomeado 1º Coach Executivo no ranking mundial pela Global Gurus, 1º Pensador em Liderança, 7º Pensador de negócios segundo classificação feita pela Thinkers50. Entre seus 35 livros estão os best-sellers da revista Business Week, The Leader of the Future (O Líder do Futuro) e Global Leadership: The Next Generation (Liderança Global: A Próxima Geração). Marshall é uma autoridade mundial na ajuda de líderes de sucesso, na conquista de mudanças positivas de comportamento tanto em si mesmos quanto de seus funcionários e suas equipes.

Marizete Zatt Flor

Graduada em Administração de Empresas, pós-graduada em Recursos Humanos, com diversas especializações nacionais e internacionais. Certificada em Liderança e Coaching Executivo (Ohio University of business e Master Coach MCC - Behavioral Coaching Institute. Experiência de mais de 20 anos na área de Recursos, Humanos, atualmente Diretora de Operações na Extended DISC do Brasil.

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